segunda-feira, 19 de outubro de 2009
CONTINUUM
Mambo, escambo
Troca de passos
Tango, fandango, jongo
Tudo dançando, continuum ando
O dengo, o tengo tengo, o flamenco
O lundú, o merengue, o rasquear do charango
O bumbo, o gongo, o banjo, o Bando da Lua
O canto, o contra-canto
O tempo em contra-tempo, encontra o tempo
Todos flutuando, sambando em bando
Transeando
Derviches rodopiando
Sendo-aí, aí estando
Um dia,
em 1984, fui deixado numa rua de Nova York.
Era domingo de manhã e parecia tudo dormindo.
A rua era só eu e todos aqueles edfícios a se deitarem sobre mim.
Estava absolutamente só, sem nenhuma referência que me desse um índice de quem eu era.
erdi a identidade por inteiro, estava nú de mim, de pânico, enquanto caminhava desorientado sob o sol da América.
A alma que também me abandonara esbarrou no limite extremo da solidão.
Há um morcego na casa
É preto e voa dentro do meu quarto
Sinto o vento das asas
Ele me incomoda muito e dá um grunhido que arrepia
Sei que vou matá-lo mas ainda não consegui
porque ele se esconde quando começo a perseguí-lo
Eu me deito e ele volta
Inicio a perseguição
Só me tranquilizo com a sua morte
Sei que é um frugívero mas não tenho nervos para
aguentar sua presença passeando do quarto para a cozinha
e depois pra sala projetando uma sombra grande que
percorre as paredes em velocidade
Estou só e ele é meu companheiro
Volte logo morcego, quero matá-lo e dormir.
DELICATESSE
Ao se desfazer um caso de amor é preciso ter na boca as melhores palavras, e durante esse longo momento, muita cautela para não ferir no outro aquele que já é pra nós antigo sentimento.
PÁTRIA
Uma bandeira hasteada num grampo
Nessa bandeira eu vivo, eu trampo
Nesse verde, amarelo, azul e branco.
25 DE MAIO
Tão boa foi essa temporada
Até um eclipse aconteceu noutro dia
A terra sobre a lua sombreada, perfeitamente ajustada
Como esse encontro, suave, sem confronto
Pleno de afeto, lento, o tempo certo para sulcar lembranças de uma breve eternidade
No fim, uma viajem, uma lacuna, um tempo para refletir, saudade.
ILHA SOLTEIRA
A ilha que há na fronteira solteira é, e só,
como é da natureza das ilhas
Não lhe carece união, nem filhos, nem filhas
Pouco lhe interessa casamento
Apesar do assédio constante do rio e do vento
Quer somente estar só, sem lenço e sem documento.
DIA 1 DO ANO DE 1993
Ouvindo Penny Lane e fumando um cigarro,
olhei para a cruz das duas vigas do teto,
e no agudo máximo do solo de trumpete,
pensei no meu pai e pedi sua bênção.
A emoção caiu sobre mim como um leve manto de seda.
O choro aliviou a solidão, eu não estava mais só.
VOCÊ
Você é mais um enigma pra mim
E o resultado pode ser prazeroso
E pode ser desastroso
E é preciso ir até o fim
E o fim pode ser já
E pode ser nunca
E se for nunca, seremos felizes.
DE 45 A 15
Meus pêlos estão me deixando
Meus cabelos já o fazem há muito tempo
Nas pernas já são ralos e finos
No peito, brancos e fracos
No resto, ainda me sinto mais menino
PARA RADUÃ
Sentar para escrever
Tentar disciplinar o ato de fazer, de refazer, de transformar trabalho em lazer
Tentar polir, fazer luzir
Tocar as almas, as harpas
Cravar no coração as farpas colhidas na vida vã
Como fez Raduã nascer Nassar
É, Não É
A noite é escura
Não totalmente ela é
Lúmem há
Betume é escuro
Não totalmente ele é
puro
No chiaro-scuro
O diamante
Não totalmente ele é
duro
domingo, 18 de outubro de 2009
FALSA POESIA
Rola poesia
Rola pela mesa em cinza grafite
Rola poesia falsa
Pela auto-crítica negada
Rola apagada em farelos de borracha
PÓS-CONCEITO
Na estrada...eu indo
ela vindo
dei com ela
A negra de pernas e braços finos
No rosto o inchaço da cachaça, reluzia no sol do meio-dia
Revi em segundos todo o preconceito que logo se desfez
quando meiga e com vocábulos empastados me desejou
bom dia
FINCADO
Aqui estou na catanduva
Sei que fui aqui
Outrora senti aqui
Eu já aqui, aqui
Saí daqui da catanduva
E não mais aqui
Nem sinto aqui
Eu não já aqui, aqui
Mas que saudade aqui
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